Rio

... a lebre parou, exaurida da corrida, junto à pequena cascata do ribeiro, aninhou-se junto as rochas e adormeceu. O ruído da água acordou-a (ou talvez não), parecia trazer uma voz suave e longínqua; prestou atenção...

Era só uma cantilena, um lá lá lá que o rio entoava em alegria.

A lebre, ainda cansada, estranhou e perguntou:
-Não te cansa a cantoria, não te cansa a correria, nunca paras?

-Não, não paro, não posso parar, sou assim...

-As vezes é preciso fazer uma pausa, parar. Parar não é desistir é só encontrar novas forças para prosseguir.

-Ah... uma vez pensei assim, julguei-me cansado e parei. As minhas águas acumularam, fizeram um grande lago, inquinaram, cresceram em mim algas, os meus peixes definharam, havia um cheiro pútrido, estava a morrer. Então soltei as minhas agua e voltei a correr, por onde passava via a morte e desolação por ter parado, arrependi-me.

-Oh! Tenho pena de ti, tens que estar sempre em esforço para que os outros não morram.

-Não, não... esforço fiz eu para estar parado, sou assim, tal como um coração só é coração enquanto bater, um rio só sabe correr para o mar...


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