who fuck rule the world



- Porque vais? Porque tens que ir?
- São só seis meses. Pensa; quando voltar vamos poder ter a nossa casa, deixar esta barraca.
Ela soube a força de toda a sua argumentação inútil, encostou a cabeço no seu peito e aproveitou o aconchego dessa noite, que bem podia ser a ultima.

O por-do-sol espalhava uma luz fantasmagórica sobre as aguas calmas, tão calmas quanto podem ser as aguas do mar do norte, contrastando com a violência da tempestade que deixou o barco quase destruído e levou dois companheiros seus. Era um milagre terem regressarem a terra. Muitos meses se passariam ate regressarem a casa.

As máquinas chegaram pela manha, acompanhadas pela polícia, esmagaram as barracas, esmagaram pequenos sonhos. Gloria não tinha para onde ir depois das maquinas terem esmagado os seus sonhos. Sobrevive como cozinheira num pequeno restaurante do interior e dorme na barraca das traseiras. De quando em vez, sempre que junta algum dinheiro, vai junto ao mar, perto da sítio onde um dia teve uma barraca que foi substituída por um hotel, olha o mar, suspira, pensa em Júlio.

Júlio, quando regressou, passados muitos meses, não encontrou a sua barraca, não encontrou Gloria. Vive uns quilómetros mais acima, namora a Ana, mas sempre que pode vai junto ao mar. Não olha para o mar, revoltado por o ter roubado, mas espraia o olhar pela praia na esperança de encontrar Gloria.

Passaram anos e Júlio e Gloria vão cruzando o mesmo espaço em tempos diferentes ou no mesmo tempo em espaços diferentes; nunca se encontraram, provavelmente nunca se irão encontrar. Mesmo que se encontrem, provavelmente, já não se vão reconhecer, ou talvez não...





Sem comentários: