Amelia




Amélia pequenita,
veste um vestido de chita
estampado, encarnado,
com um laço de lado.

Amélia bonita,
cabelo atado com uma fita,
sapatos de verniz,
e no coração uma cicatriz.

Amélia calada,
mesmo sangrado não diz nada.
No olhar profundo
vê-se o coração fechado ao mundo.

Amélia sozinha,
ainda novinha
o seu coração já foi para a cova
junto com a mãe que morreu nova

Amélia têm um pai covarde;
bêbado, regressa tarde,
cobrindo-a de lama,
mete-se na sua cama.

Amélia, corpo e alma retalhada,
na noite larga uma lágrima,
na noite não grita,
de dia veste um vestido de chita.

Amélia desesperada
Amélia de coração em brasa
Amélia esconde a faca da cozinha
debaixo da sua camisinha

Amélia seu coração pula e salta,
na noite escura e alta,
enquanto a lágrima lhe cai
trespassa o coração do pai

Amélia de vermelho pintada.
Sua alma em sangue lavada.
sai para a noite fria
expurgar os restos da heresia

Amélia abandonada
sobe a torre do campanário
e do alto do santuário
parte ao encontro das pedras da estrada


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