Marionete



Quando nos acontecem coisas estranhas devemos ir ao medico.

Fui ao medico; ele ainda ficou mais esquisito do que eu. Perguntou-me se tinha dores, disse-lhe que não, receitou-me uns comprimidos e marcou consulta na ortopedia. Tenho um braço esticado, bem acima da cabeça, não o consigo dobrar, parece partido, sem força, sem vida... mas em vez de cair subiu.

Pedi ao ortopedista, mesmo não doendo, para o ligar, pelo menos não pareço doido ao andar na rua de braço no ar. Mas o meu mundo começou a ficar estranho, talvez o sangue que me desce ao cérebro tenha algum efeito, tipo as visões provocadas por trepanação: comecei por ver um rapaz de pernas para o ar.

Não estava preso a parte alguma, tinha os olhos profundos e estranhos. Não queria passar por doido, o que seria fácil já que tenho um braço ligado e no ar, mas, mesmo assim, arrisquei a falar com o rapaz; é demasiado esquisito ver pessoas suspensas e de pernas para o ar:

- Estás confortável assim?

Era só para meter conversa mas ele olhou-me com indiferença, aproximou-se, andado de pernas para o ar através de nada, esticou-se, meteu a mão pela terra, como se ela não existisse, puxou um fio que atou ao meu braço.

Curou-me!

O meu braço voltou à posição normal, ele, o rapaz que andava pendurado no nada, voltou a ter os pés na terra. Olhei-o incrédulo, o seu olhar estranho tinha desaparecido, na verdade todo ele tinha desaparecido dando lugar a um rapaz desgrenhado, ranhoso e mal arranjado, com uma profunda e notória doença mental.

Afastei-me assustado, contente por estar curado, mas não me larga a sensação que tenho fios atados que me condicionam os movimentos, condicionam-me a visão... que estou a ser controlado... que estou a ser enganado!

2 comentários:

Jorge Vieira Cardoso disse...

história engraçada com bonita mensagem.

talvez o braço estivesse melhor sem ser curado.
as perguntas ficam quem é sano? e quém é louco?

Elaine disse...

fant�stico texto! Tenho tantas vezes a mesma sensa�o...