Silencio

Paira a mosca sobre o prato da sopa. O preciso instante em que decide parar e... cair... cair... cair... o preciso instante em que decide e já não é capaz de o fazer... toda a sucessão de produtos sucedâneos consumiram o livre arbítrio, as asas não param de bater.

O livre arbítrio é a distância entre a loucura sanidade e eu tenho a cabeça como se fosse fruta bichada... sinto insectos lá dentro, roendo o que um dia fui eu, restando a lascívia de destruir um território virgem... ah sim, sinto-os lá dentro; lá dentro como se eu não estivesse lá. Lá é um lugar que não é meu, é dos bichos. Eu sou num qualquer outro lugar onde não me reconheço, onde não há espelhos, não há imagem de mim, somente uma estreita ligação aos bichos; sinto o cheiro da fruta bichada...

E depois há o silencio.
o silencio em que me recolho,
o silencio em que te defendes,
o silencio em que nos encontramos,
o silencio que se entranha...

até que não reste mais nada que não seja silencio...


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