O crime

Autor: Bissarie




Há rasgos de mim que se atropelam, rodopiam memorias, nebulosas brumas em que me perco e desfaleço e caio ininterruptamente ao aconchego da terra que me acolhe.

Só mais uma vez!

Não que fosse um pedido, mas era uma necessidade intrínseca de revisitar o local do crime. Todo o criminoso volta ao local do crime. Percorri os mesmos trajectos, olhei nas mesmas direcções, vi as mesmas portas, as mesmas casas e ali, mesmo na entrada do shopping, onde deveria estar pintada a marca do corpo caído no chão, parei estupefacto, porque, de facto, o local, o preciso local, estava limitado por cercarias metálicas.

Tantos anos! Tantos anos volvidos e ainda haveria memoria? Senti tonturas e olhei em volta procurando polícias imaginários ou agentes disfarçados. Mas não, eram só pequenos espasmos de restos de adrenalina segregada pela minha mente doentia.

Encostado e sem acção via-te a descer a rua. (Era um ver quase pornográfico já que não existe nada de mais intimista do que o criminoso e a sua vitima) o recordar a aproximação e o sentimento de indecisão, como o ligeiro afagar e acariciar a arma que esta no bolso, o momento a acontecer e a certeza que alguém vai ficar ali, derramando o sangue nas pedras da estrada.

Por mais que tente retardar o momento, passa-lo em câmara lenta, levar cada segundo à extensão do infinito, não me é inteligível, passou-se tudo fora de mim,

Eu nem cheguei a tocar a arma, já os teus lábios estavam colados nos meus, na infinita fracção do segundo passei de criminoso a vitima e rolava pela estrada, caindo ininterruptamente na direcção do nada....

3 comentários:

Anónimo disse...

Agradeceria que se você usar a minha imagem, a minha acreditação como um autor, pois se não for uma acção judicial por não respeitar os direitos de autor

Bissarrie...

Corvo disse...

queira desculpar, foi efectuada a devida correcção, espero q tenha a sua concordancia

Corvo disse...

queira desculpar, foi efectuada a devida correcção, espero q tenha a sua concordancia